sexta-feira, 24 de março de 2017

Sobre rufiões e verdugos

Fonte, com alterações

Bullying é um anglicismo utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo de indivíduos, causando dor e angústia e sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder. Bullying é um problema mundial, sendo que a agressão física ou moral repetitiva deixa sequelas psicológicas na pessoa atingida.

O termo com esta definição foi proposto após o Massacre de Columbine, ocorrido nos Estados Unidos no ano de 1999, pelo pesquisador sueco Dan Olweus, a partir do gerúndio do verbo inglês to bully (que tem acepção de "tiranizar, oprimir, ameaçar ou amedrontar") para definir os valentões que, nas escolas, procuram intimidar os colegas que trata como inferiores.

Embora o termo tenha seu uso bastante recente, o fenômeno é bastante antigo e encontra relatos na literatura que datam de mais de cem anos; a prática tem um grande poder de destruir a auto-estima da vítima, pois esta precisa permanecer no ambiente escolar e enfrentar todos os dias as humilhações diante de todos os colegas.

Em 20 por cento dos casos, o praticante de bullying também é vítima. Nas escolas, a maioria dos atos de bullying ocorre fora da visão dos adultos e grande parte das vítimas não reage ou fala sobre a agressão sofrida.


Terminologia

Devido ao fato de ser um fenômeno que só recentemente ganhou mais atenção, o assédio escolar ainda não possui um termo específico consensual, sendo o termo em inglês bullying constantemente utilizado pela mídia de língua portuguesa. Existem, entretanto, alternativas como acossamento, ameaça, assédio e intimidação, além dos mais informais judiar e implicar, além de diversos outros termos utilizado pelos próprios estudantes em diversas regiões.

No Brasil, o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa indica a palavra "bulir" como equivalente a "mexer com, tocar, causar incômodo ou apoquentar, produzir apreensão em, fazer caçoada, zombar e falar sobre, entre outros". Por isso, são corretos os usos dos vocábulos derivados, também inventariados pelo dicionário, como bulimento (o ato ou efeito de bulir) e bulidor (aquele que pratica o bulimento).

Caracterização do assédio escolar

Como a maior parte dos alunos não denuncia e alguns adultos negligenciam sua importância, a sensação de impunidade favorece a perpetuação do comportamento agressivo.

"Acossamento", "intimidação" ou, entre falantes de língua inglesa, bullying, é um termo frequentemente usado para descrever uma forma de assédio executado por alguém que está, de alguma forma, em condições de exercer o seu poder sobre alguém ou sobre um grupo mais "fraco". O cientista sueco Dan Olweus, que trabalhou por muito tempo em Bergen, na Noruega, define assédio escolar em três termos essenciais:

    o comportamento é agressivo e negativo;
    o comportamento é executado repetidamente;
    o comportamento ocorre num relacionamento onde há um desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas.

O assédio escolar divide-se em duas categorias:

    assédio escolar direto;
    assédio escolar indireto, também conhecido como agressão social

O "bullying direto" é a forma mais comum entre os agressores (bullies) masculinos. A "agressão social' ou "bullying indireto" é a forma mais comum em bullies do sexo feminino e crianças pequenas, e é caracterizada por forçar a vítima ao isolamento social. Este isolamento é obtido por meio de uma vasta variedade de técnicas, que incluem:

    espalhar comentários;
    recusa em se socializar com a vítima;
    intimidar outras pessoas que desejam se socializar com a vítima;
    ridicularizar o modo de vestir ou outros aspectos socialmente significativos (incluindo a etnia da vítima, religião, incapacidades etc).

O assédio pode ocorrer em situações envolvendo a escola ou faculdade/universidade, o local de trabalho, os vizinhos e até mesmo países. Qualquer que seja a situação, a estrutura de poder é tipicamente evidente entre o agressor (bully) e a vítima. Para aqueles fora do relacionamento, parece que o poder do agressor depende somente da percepção da vítima. Todavia, a vítima geralmente tem motivos para temer o agressor, devido às ameaças ou concretizações de violência física/sexual, ou perda dos meios de subsistência.

Deve-se encorajar os alunos a participarem ativamente da supervisão e intervenção dos atos de bullying, pois o enfrentamento da situação pelas testemunhas demonstra, aos autores do bullying, que eles não terão o apoio do grupo. Uma outra estratégia é a formação de grupos de apoio, que protegem os alvos e auxiliam na solução das situações de bullying. Alunos que buscam ajuda têm 75,9 por cento de probabilidade de reduzirem ou cessarem um caso de bullying. Um estudo realizado na Suécia demonstrou que os alunos ainda não estão totalmente sensibilizados para esta questão. Enquanto 69 por cento dos entrevistados apontou o bully como culpado, 42 por cento apontou também culpa para a vítima, devido à sua "diferença", com uma maioria de rapazes nesta resposta.

Os professores devem lidar e resolver efetivamente os casos de bullying, enquanto as escolas devem aperfeiçoar suas técnicas de intervenção e buscar a cooperação de outras instituições, como os centros de saúde, conselhos tutelares e redes de apoio social.

Características dos bullies

Em um estudo entre alunos autores de bullying, 51,8 por cento afirmou que não recebeu nenhum tipo de orientação ou advertência por seus atos. Provavelmente porque 41,6 por cento dos que admitiram ser alvos de bullying relataram não ter solicitado ajuda aos colegas, professores ou família.

Pesquisas indicam que adolescentes agressores têm personalidades autoritárias, combinadas com uma forte necessidade de controlar ou dominar. Também tem sido sugerido que uma deficiência em habilidades sociais e um ponto de vista preconceituoso sobre subordinados podem ser particulares fatores de risco. Estudos adicionais têm mostrado que enquanto inveja e ressentimento podem ser motivos para a prática do assédio escolar, ao contrário da crença popular, há pouca evidência que sugira que os bullies (ou bulidores) sofram de qualquer deficit de autoestima. Outros pesquisadores também identificaram a rapidez em se enraivecer e usar a força, em acréscimo a comportamentos agressivos, o ato de encarar as ações de outros como hostis, a preocupação com a autoimagem e o empenho em ações obsessivas ou rígidas.

É frequentemente sugerido que os comportamentos agressivos têm sua origem na infância:

    "Se o comportamento agressivo não é desafiado na infância, há o risco de que ele se torne habitual. Realmente, há evidência documental que indica que a prática do assédio escolar durante a infância põe a criança em risco de comportamento criminoso e violência doméstica na idade adulta".

O assédio escolar não envolve necessariamente criminalidade ou violência. Por exemplo, o assédio escolar frequentemente funciona por meio de abuso psicológico ou verbal.

Os bullies sempre existiram mas eram - e ainda são - chamados em português de rufias, esfola-caras, brigões, acossadores, cabriões, avassaladores, valentões e verdugos.

Os "valentões" costumam ser hostis, intolerantes e usar a força para resolver seus problemas. Porém, eles também frequentemente foram vítimas de violência, maus-tratos, vulnerabilidade genética, falência escolar e experiências traumáticas. Comportamentos autodestrutivos como consumo de álcool e drogas e correr riscos desnecessários são vistos com mais frequência entre os autores de bullying.

Quanto mais sofrerem com violência e abusos, mais provável é eles repetirem esses comportamentos em sua vida diária e negligenciarem seu próprio bem-estar.

Tipos de assédio escolar

Enquanto a sociedade não resolver o problema de bullying nas escolas, dificilmente conseguirá reduzir as outras formas de comportamentos agressivos e destrutivos entre adultos.

Os bullies usam principalmente uma combinação de intimidação e humilhação para atormentar os outros. Alguns exemplos das técnicas de assédio escolar:

    insultar a vítima;
    acusar sistematicamente a vítima de não servir para nada;
    ataques físicos repetidos contra uma pessoa, seja contra o corpo dela ou propriedade.
    interferir com a propriedade pessoal de uma pessoa, livros ou material escolar, roupas, etc, danificando-os.
    espalhar rumores negativos sobre a vítima;
    depreciar a vítima sem qualquer motivo;
    fazer com que a vítima faça o que ela não quer, ameaçando-a para seguir as ordens;
    colocar a vítima em situação problemática com alguém (geralmente, uma autoridade), ou conseguir uma ação disciplinar contra a vítima, por algo que ela não cometeu ou que foi exagerado pelo bully;
    fazer comentários depreciativos sobre a família de uma pessoa (particularmente a mãe), sobre o local de moradia de alguém, aparência pessoal, orientação sexual, religião, etnia, nível de renda, nacionalidade ou qualquer outra inferioridade depreendida da qual o bully tenha tomado ciência;
    isolamento social da vítima;
    usar as tecnologias de informação para praticar o cyberbullying (criar páginas falsas, comunidades ou perfis sobre a vítima em sites de relacionamento com publicação de fotos etc);
    chantagem.
    expressões ameaçadoras;
    grafitagem depreciativa;
    usar de sarcasmo evidente para se passar por amigo (para alguém de fora) enquanto assegura o controle e a posição em relação à vítima (isto ocorre com frequência logo após o bully avaliar que a pessoa é uma "vítima perfeita");
    fazer que a vítima passe vergonha na frente de várias pessoas.

Bullying professor-aluno

O assédio escolar pode ser praticado de um professor para um aluno.
As técnicas mais comuns são:

    intimidar o aluno em voz alta rebaixando-o perante a classe e ofendendo sua autoestima. Uma forma mais cruel e severa é manipular a classe contra um único aluno o expondo a humilhação;
    assumir um critério mais rigoroso na correção de provas com o aluno e não com os demais. Alguns professores podem perseguir alunos com notas baixas;
    ameaçar o aluno de reprovação;
    negar ao aluno o direito de ir ao banheiro ou beber água, expondo-o a tortura psicológica;
    difamar o aluno no conselho de professores, aos coordenadores e acusá-lo de atos que não cometeu;
    tortura física, mais comum em crianças pequenas; puxões de orelha, tapas e cascudos.

Tais atos violam o Estatuto da Criança e do Adolescente e podem ser denunciados em um Boletim de Ocorrência numa delegacia ou no Ministério Público. A revisão de provas pode ser requerida ao pedagogo ou coordenador e, em caso de recusa, por medida judicial.

Alcunhas ou apelidos (dar nomes)

Normalmente, uma alcunha (apelido) é dada a alguém por um amigo, devido a uma característica "única" dele. Em alguns casos, a alcunha é feita em função de uma característica que a vítima não quer que seja notada, tal como uma orelha grande ou uma forma diferenciada de alguma parte do corpo. Em casos extremos, professores podem ajudar a popularizá-la, mas isto é geralmente percebido como inofensivo ou a agressão é sutil demais para ser reconhecida. Há uma discussão sobre se é pior que a vítima conheça ou não o nome pelo qual é chamada. Todavia, uma alcunha pode, por vezes, tornar-se tão embaraçosa que a vítima terá de se mudar (de escola, de residência ou de ambos).

Indicativos de se estar sofrendo bullying

Vítimas de bullying têm mais chance de desenvolverem transtornos de humor, transtornos alimentares, distúrbios de sono ou/e transtornos de ansiedade em algum momento da vida.

Sinais e sintomas possíveis de serem observados em alunos alvos de bullying:

    enurese noturna (urinar na cama);
    distúrbios do sono (como insônia);
    problemas de estômago;
    dores e marcas de ferimentos;
    síndrome do intestino irritável;
    transtornos alimentares;
    isolamento social/ poucos ou nenhum amigo;
    tentativas de suicídio;
    irritabilidade/agressividade;
    transtornos de ansiedade;
    depressão maior;
    relatos de medo regulares;
    resistência/aversão a ir à escola;
    demonstrações constantes de tristeza;
    mau rendimento escolar;
    atos deliberados de autoagressão.

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O(s) autor(es) das agressões geralmente são pessoas que têm pouca empatia, pertencentes à famílias desestruturadas, em que o relacionamento afetivo entre seus membros tende a ser escasso ou precário. Por outro lado, o alvo dos agressores geralmente são pessoas pouco sociáveis, com baixa capacidade de reação ou de fazer cessar os atos prejudiciais contra si e possuem forte sentimento de insegurança, o que os impede de solicitar ajuda.
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 As formas de agressão entre alunos são as mais diversas, como empurrões, pontapés, insultos, espalhar histórias humilhantes, mentiras para implicar a vítima a situações vexatórias, inventar apelidos que ferem a dignidade, captar e difundir imagens (inclusive pela internet), ameaças (enviar mensagens, por exemplo), e a exclusão.
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O que leva o autor do bullying a praticá-lo?

Querer ser mais popular, sentir-se poderoso e obter uma boa imagem de si mesmo. Isso tudo leva o autor do bullying a atingir o colega com repetidas humilhações ou depreciações. É uma pessoa que não aprendeu a transformar sua raiva em diálogo e para quem o sofrimento do outro não é motivo para ele deixar de agir. Pelo contrário, sente-se satisfeito com a opressão do agredido, supondo ou antecipando quão dolorosa será aquela crueldade vivida pela vítima. 

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