A prática filosófica faz exigência morais extenuantes: honestidade e
equidade para com os oponentes na argumentação; uma capacidade para
tolerar uma incerteza prolongada quanto a questões sérias; a força de
carácter para mudar as nossas ideias quanto a crenças básicas, e para
seguir a argumentação e não as nossas inclinações emocionais;
independência mental em vez da disposição para seguir as modas
filosóficas.
O respeito moral pelos leitores e ouvintes exige que um filósofo
evite a persuasão não racional, que não seja adulador, que não escarneça
das outras pessoas e que não as procure manipular de outras formas de
modo a concordarem com ele. A filosofia devia demonstrar que podemos
discordar profundamente sobre questões fundamentais sem abandonarmos uma
razoabilidade comum. O mesmo respeito exige que o filósofo exponha a
estrutura do seu argumento tão claramente quanto possível, de modo a
encorajar, e não impedir, a sua crítica.
A claridade e a simplicidade de estilo, o uso mínimo de
expressões técnicas e o abandono do aparato técnico quando a linguagem
comum pode ser adequada expressam também uma preocupação em ser
entendido e em deixar ao argumento e à justificação, só por si, o papel
de persuadir. Um estilo enfatuado e obscuro pode mascarar lacunas reais
na argumentação. Um estilo pretensioso pode dissimuladamente trabalhar
no sentido de desarmar a apreciação crítica, substituindo a autoridade
do argumento bom com a pretensa autoridade pessoal do filósofo,
apresentado como um sábio.
A filosofia tem uma responsabilidade séria pela linguagem. É um
dos seus mais importantes guardiães — obrigada a opor-se a terminologias
que enleiam ou confundem o pensamento. Uma linguagem negligente e
imprecisa perde sensibilidade às distinções entre o razoável e o
irrazoável, entre o argumento bom e o mau — em qualquer área, incluindo
as áreas da moral pessoal e política. Empobrecer os recursos da
linguagem pode também empobrecer a experiência humana, negando-nos as
palavras de que precisamos para articular a sua variedade.
Será que sublinhar o estilo e o domínio da linguagem implica que a
filosofia é um ramo da literatura? Em alguns aspectos importantes, a
filosofia é literatura. Mas a aproximação é levada demasiado
longe quando um filósofo deixa que a apresentação imaginativamente
vívida de uma perspectiva sobre o mundo lhe dê uma aparência de
auto-evidência, desviando a atenção crítica do facto de as categorias
não terem sido deduzidas e de a justificação argumentativa ter sido
subordinada à expressão da “visão” semi-poética.
Os filósofos precisam, pois, de um robusto sentido da sua
falibilidade. É insensato que um filósofo aspire ao papel de
especialista ou autoridade, pois isso é um passo mais no sentido do
enfraquecimento da atenção crítica por parte de leitores e ouvintes de
que o filósofo constantemente carece.
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