terça-feira, 27 de outubro de 2015

Feminismo e Machismo (no Brasil)

Feminismo no Brasil

Ao falar sobre o feminismo no Brasil, devemos inicialmente falar sobre a situação da mulher em nossa sociedade. Durante vários séculos, as mulheres estiveram relegadas ao ambiente doméstico e subalternas ao poder das figuras do pai e do marido. Quando chegavam a se expor ao público, o faziam acompanhadas e geralmente se dirigiam para o interior das igrejas. A limitação do ir e do vir era a mais clara manifestação do lugar ocupado pelo feminino.
A transformação desse papel recluso passou a experimentar suas primeiras transformações no século XIX, quando o governo imperial reconheceu a necessidade de educação da população feminina. No final desse mesmo período, algumas publicações abordavam essa relação entre a mulher e a educação, mas sem pensar em um projeto amplo a todas as mulheres. O conhecimento não passava de instrumento de reconhecimento das mulheres provenientes das classes mais abastadas.
Chegando até essa época, as aspirações pelo saber existiam, mas não possuíam o interesse de subverter ou questionar a ordem imposta pelo mundo dos homens. No século XX, os papéis desempenhados pela mulher se ampliaram quando algumas destas se inseriram em uma sociedade industrial, onde assumiram uma gama diversa de postos de trabalho. Apesar disso, a esfera da mulher ligada ao lar continuava a ter sua força hegemônica.
Aqui tínhamos uma diversificação dos feminismos que iam da tendência bem comportada até o feminismo mais incisivo. Nesse quadro, observamos a mobilização de mulheres que exigiam o seu direito à cidadania sem questionar os outros papéis subalternos assumidos pelas mesmas. Na outra extremidade, vemos mulheres que reivindicam sua ampliação na vida pública, a defesa irrestrita do movimento dos trabalhadores e a consolidação dos princípios de lutas comunistas.
Entre as décadas de 1930 e 1960, as manifestações feministas oscilavam mediante as mudanças desenvolvidas no cenário político nacional. Em 1934, o voto feminino fora reconhecido pelo governo de Getúlio Vargas. Já em 1937, os ideais corporativistas do Estado Novo impediram a expressão de movimentos de luta e contestação de homens e mulheres. Nos anos de 1950, a redemocratização permitira a flexibilização da exigência que condicionava o trabalho feminino à autorização marital.
A revolução dos costumes engendrada na década de 1960 abriu caminho para que o feminismo se tornasse um movimento de maior força e combatividade. Mesmo sob o contexto da ditadura, as mulheres passaram a se organizar para questionarem mais profundamente seu papel assumido na sociedade. A problemática dos padrões de comportamento passou a andar de mãos dadas com os ideias de esquerda que inspiravam várias participantes desse momento.
Vale aqui ressaltar que a luta pela equidade entre os gêneros acabou criando dilemas significativos em relação à mulher feminista. Lutar pelos direitos da mulher, em muitos momentos, parecia ser a demonstração que a mulher poderia simplesmente assumir os mesmos lugares e comportamentos antes privados ao mundo masculino. Dessa forma, a subjetividade feminina era deixada de lado para favorecer um ideal de que a “verdadeira feminista” deveria ser combativa e, ao mesmo tempo, embrutecida.
Quando atingimos o processo de redemocratização do país, observamos que o feminismo passou por uma reorganização contrária a uma tendência unificadora. Uma espécie de “feminismo temático” apareceu em instituições que tratavam de demandas específicas da mulher. Em certo sentido, o feminismo tomava para si não só a participação na esfera política, mas também se desdobrava no debate de questões e problemas de ordem mais concreta e imediata.
Dessa forma, chegamos à atualidade vendo que a ação feminista não mais se comporta apenas na formação de movimentos organizados. Sendo assim, a intenção de se pensar sobre as necessidades da mulher não mais atravessa a dificuldade de se criar um projeto amplo e universalista. Entre as grandes e pequenas demandas, as mulheres observam que a conquista de sua emancipação abre portas para a compreensão e a resolução de outros novos desafios.

Por Rainer Sousa
Graduado em História
Fonte Brasil Escola
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As sementes do feminismo no Brasil

Uma das primeiras mulheres a publicar na grande imprensa brasileira, Nísia Floresta abalou as estruturas da sociedade patriarcal brasileira do século XIX ao defender a valorização da mulher

Numa época em que as mulheres brasileiras viviam trancadas em casa, submetidas aos pais, maridos, ou mesmo irmãos, uma norte-rio-grandense de Papari, nascida em 12 de outubro de 1810, teve um vida diferente. Tão diferente que hoje sua cidade natal leva seu nome, Nísia Floresta. Na verdade, Nísia Floresta Brasileira Augusta era o pseudônimo de Dionísia Gonçalves Pinto, responsável pelas primeiras páginas da história da luta feminina em busca de seus direitos no Brasil e que merece destaque pela coragem revelada em seus escritos e pelo ineditismo de suas idéias.
Casada aos treze anos, separou-se e voltou a morar com a família. Aos vinte, residindo em Olinda, apaixona-se por um jovem acadêmico de direito, Manuel Augusto de Faria, com quem passa a viver e tem uma filha de nome Lívia. Em 1833, a família se transfere para Porto Alegre, onde nasce o segundo filho e, em seguida, o companheiro adoece repentinamente e falece, aos 25 anos. Nísia permanece em Porto Alegre ainda alguns anos, dando aulas particulares e escrevendo para jornais, até que os conflitos da Revolução Farroupilha praticamente a obrigam a transferir-se para a capital do Império, em 1837.
No ano seguinte, já instalada no Rio de Janeiro, ela anuncia nos principais jornais da Corte a abertura de uma escola para meninas, a que dá o nome de Colégio Augusto, que se torna uma instituição conceituada. Enquanto a maioria das escolas enfatizava a “educação da agulha”, ou a “educação de sala”, dando ênfase para as aulas de bordado, canto, francês e piano, o Colégio Augusto incluía em seu currículo o ensino do latim, italiano, francês, inglês, geografia, história, aritmética e língua pátria, até então reservados apenas aos garotos. O colégio também se destacou por condenar o uso do espartilho e por incentivar a prática de atividades físicas, uma novidade da medicina higienista, contrariando a tendência geral de manter as jovens inativas e recolhidas. Por tudo isso, foram muitas as críticas que o colégio de Nísia Floresta recebeu, condenando principalmente as disciplinas consideradas “supérfluas” e “desnecessárias” à formação das meninas.
Nísia Floresta foi uma das primeiras mulheres no Brasil a romper os limites do espaço privado e a publicar textos na grande imprensa. Desde 1830 seu nome aparece em conhecidos periódicos. Foi também pioneira ao refletir sobre a relação existente entre o desenvolvimento material e intelectual de um país e o lugar ocupado pelas mulheres. Para ela, o progresso de uma sociedade dependia da educação; e só a instrução junto com a educação moral fariam da mulher uma boa esposa e uma mãe responsável. Não custa lembrar que eram estes os objetivos da educação das meninas naqueles tempos: torná-las mais conscientes de seus deveres e papéis sociais.
Nísia Floresta publicou cerca de 15 títulos em português, francês e italiano, entre romances, contos, crônicas, ensaios e poemas, no melhor estilo romântico. E em praticamente todos se encontra a firme intenção de formar consciências e de alterar as relações entre homens e mulheres. O tema da educação está presente nos seus escritos, ora através de um tom entusiasmado e panfletário, como em Opúsculo humanitário, de 1853, e A mulher, de 1857, que trazem propostas educacionais e críticas contundentes ao governo; ora apresentam um tom afetuoso e persuasivo de mãe e professora zelosa, como em Conselhos à minha filha, de 1842, Daciz ou a jovem completa e Fany ou o modelo das donzelas, de 1847.
O primeiro livro escrito por Nísia Floresta é também o primeiro no Brasil a tratar dos direitos das mulheres à instrução e ao trabalho. Direitos das mulheres e injustiça dos homens foi publicado em 1832, quando a grande maioria de nossas mulheres vivia enclausurada em preconceitos, submissas e analfabetas, sem qualquer direito a não ser o de ceder sempre à vontade masculina. Seu livro denuncia o mito da superioridade do homem e exige que as mulheres também sejam consideradas seres inteligentes, “dotadas de razão” e merecedoras de respeito. Foi inspirado nas novíssimas idéias que agitavam os meios letrados da Europa, que também reivindicavam uma condição mais justa para as mulheres. Nísia faz uma adaptação das idéias estrangeiras e escreve o texto fundador do feminismo brasileiro. Afirmava que a mulher era tão capaz quanto o homem de ocupar cargos de comando, como de general, almirante e ministro, ou de exercer a medicina, a magistratura e a advocacia, além de defender uma sociedade que valorizasse a função materna. Nísia vai fundo em suas intenções de acender o debate e de abalar as eternas verdades de nossas elites patriarcais.
Hoje, idéias como estas, de que a menina devia ser educada para ser melhor mãe de família, podem soar ultrapassadas. Mas é preciso lembrar que a mulher se beneficiou quando a maternidade passou a ser valorizada enquanto papel social. De figura inexpressiva na sociedade, em conseqüência da rígida estratificação social que privilegiava o masculino, rapidamente ela se torna o centro das atenções pela valorização da maternidade, sua função biológica exclusiva. Nísia percebeu que residia aí um trunfo, e que era preciso aproveitá-lo para que o gênero feminino adquirisse status e poder diante da opinião pública.
Nísia foi progressista também ao abordar o índio e o negro. O longo poema “A lágrima de um caeté”, de 1849, apresenta inúmeros elementos marcantes do Romantismo, como a lusofobia, o elogio da natureza e a exaltação de valores indígenas. A novidade é que o poema traz não a visão do índio-herói da maioria dos textos indianistas e, sim, o ponto de vista dos derrotados, do índio vencido e inconformado com a opressão de sua raça pelo branco invasor. Já “Páginas de uma vida obscura” circulou apenas como folhetim no jornal O Brasil Ilustrado, no ano de 1855. Nesse texto, que trata da vida de um escravo, ela enaltece as qualidades do homem negro, defende com ênfase um tratamento humanitário por parte dos senhores de escravos, e se revela sinceramente condoída com o sofrimento do outro. Mais tarde, por volta de 1870, a autora vai defender apaixonadamente a Abolição em seus diários e livros de viagem.
Em 1849, Nísia mudou-se para a Europa com os filhos e lá ficou até morrer, em 1885, em Rouen, no interior da França. No auge de sua maturidade intelectual, viajou durante anos seguidos pela Itália, Portugal, Alemanha, Bélgica, Grécia, França e Inglaterra, e se relacionou com escritores importantes como Alexandre Herculano, Dumas, Victor Hugo e George Sand. Com Auguste Comte, o idealizador da filosofia positivista, Nísia Floresta trocou algumas cartas que testemunham a amizade respeitosa que os unia, e que muitos tentaram ver como uma relação amorosa.
Nos livros Itinerário de uma viagem à Alemanha, de 1857, e Três anos na Itália, seguidos de uma viagem à Grécia, de 1864, escritos originalmente em francês, ela descreve com riqueza de detalhes, e muita sensibilidade e erudição, as cidades e os tipos humanos que vai conhecendo. No primeiro, refaz o percurso de Mme. de Staël, de Victor Hugo e de outros viajantes que também visitaram a terra de Goethe. Mas seu livro não conterá apenas um roteiro de viagem. Mais do que a descrição do trajeto entre uma cidade e outra, seu Itinerário trará em suas páginas a viagem propriamente dita − que realiza pelas aldeias e vilas e nos é comunicada através das descrições das paisagens, castelos ou igrejas que visita −, a viagem pelo passado histórico da Alemanha − quando relata episódios históricos que aconteceram nos lugares em que se encontra; e uma viagem para dentro de si mesma − quando se deixa levar pela melancolia e confidencia seus pensamentos mais íntimos, como as saudades da pátria e dos familiares distantes. Em Três anos na Itália, Nísia Floresta realiza ainda uma singular fusão entre as duas formas de diário: “o de viagem” e o “diário íntimo”, introduzindo, por vezes, um personagem que seria a pessoa com quem ela “dialoga”, que tanto pode ser alguém de seu relacionamento, como um personagem histórico, uma cidade, um cidadão qualquer.
Já o ensaio O Brasil apresenta uma particularidade curiosa: é um texto sobre o país escrito em língua estrangeira por uma brasileira, com a intenção de fazer propaganda da pátria e desfazer os preconceitos e mentiras divulgados por certos viajantes. Nísia resume a história do país, trata dos recursos econômicos e das riquezas, descreve com entusiasmo a natureza, as dimensões territoriais do país, as lutas nacionais pela libertação, e termina com severas críticas à colonização portuguesa. Além de tratar da história passada e do presente, a autora faz projeções de um “futuro grandioso”, e se alinha aos escritores que queriam construir uma imagem positiva para o país.
Como também ocorreu com outras escritoras do século XIX, o nome de Nísia Floresta caiu no esquecimento e durante muito tempo não se ouviu falar dela. A historiografia literária nacional não registra sua obra como escritora romântica, e tampouco a história da educação a menciona como uma de nossas primeiras educadoras. Apenas recentemente, com o impulso dos estudos de gênero, esta e outras autoras voltaram a ser lembradas e suas obras se tornaram motivo de investigações. E não era sem tempo. No momento em que se pesquisa e se constrói a história intelectual da mulher brasileira, é chegada a hora de dar a Nísia o lugar de destaque que ela de fato merece, e reconhecer o ineditismo de seus escritos. A autora, que tão longe iria em sua trajetória de vida, foi uma das raras mulheres de letras que surgiram no Brasil patriarcal de seu tempo. Mas foi mais ainda. Nísia Floresta foi uma brasileira erudita e “ilustrada” como bem poucas em nossa história.
Constância Lima Duarte é professora-doutora de literatura brasileira na Universidade Federal de Minas Gerais e autora de Nísia Floresta – a primeira feminista do Brasil (Editora Mulheres, 2005) e Nísia Floresta: vida e obra (Edufrn, 1995).
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Feminismo no Brasil


As origens do feminismo no Brasil se encontram no século XIX. Estas primeiras manifestações desafiaram ao mesmo tempo a ordem conservadora que excluía a mulher do mundo público (do voto, do direito como cidadã) e também, propostas mais radicais que iam além da igualdade política, mas que abrangiam a emancipação feminina, pautando-se na relação de dominação masculina sobre a feminina em todos os aspectos da vida da mulher.
Durante o império, alguns juristas tentaram legalizar o voto feminino, com ou sem o consentimento do marido. A constituição de 1891, não excluía a mulher do voto, pois na cabeça dos constituintes não existia a idéia da mulher como um indivíduo dotado de direitos. Isso fez com que muitas mulheres requeressem, sem sucesso, o alistamento. A constituição republicana de 1889 continha inicialmente uma medida que dava direito de voto para as mulheres, mas na última versão essa medida foi abolida, pois predominou a idéia de que a política era uma atividade desonrosa para a mulher.

Século XX

Alguns momentos históricos desta época foram importantes no avanço da luta das mulheres, entre outros, as greves de 1917, em 1922 o surgimento do Partido Comunista do Brasil e, nesta mesma data, a realização da Semana de Arte Moderna em São Paulo.
Em 1922, aquela que é, ao lado de Nísia Floresta, considerada pioneira no feminismo brasileiro, Berta Lutz, fundou a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, que lutava pelo voto, pela escolha do domicílio e pelo trabalho de mulheres sem autorização do marido.
O Rio Grande do Norte foi o estado pioneiro no país a legalizar o voto feminino, em 1927. A primeira eleitora registrada foi Celina Guimarães Viana. O código eleitoral elaborado em 1933 finalmente estendia o direito a voto e a representação política às mulheres; na constituinte de 1934 houve uma representante do sexo feminino, a primeira deputada do Brasil: Carlota Pereira de Queirós.
Um outro movimento na época, concomitante a luta por direitos políticos era um movimento mais de enfrentamento na justiça e nas atividades de mulheres livres-pensadoras que criavam jornais e escreviam livros e peças de teatro. Somavam-se a elas as anarquistas radicais que traziam consigo à luta das trabalhadoras, discutindo, assim, o trabalho e a desigualdade de classe, bem distante das preocupações das feministas de elite.

Dias atuais

O movimento feminista atualmente tem como bandeiras principais, no Brasil, o combate à violência doméstica — que atinge níveis elevados no país — e o combate à discriminação no trabalho. Também se dá importância ao estudo de gênero e da contribuição, até hoje um tanto esquecida, das mulheres nos diversos movimentos históricos e culturais do país. A legalização do aborto (que atualmente só é permitido em condições excepcionais) e a adoção de estilos de vida independente são metas de alguns grupos.


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Violência contra mulher é resultado de machismo, não de natureza masculina

O estudioso americano Matthew Gutmann defende o estudo de masculinidades para se acabar com a desigualdade de gênero e machismo

São Paulo – “O comportamento masculino é determinado pela biologia”. “A natureza do homem é violenta, sexual, instintiva e difícil de ser controlada”. Essas são algumas explicações usadas para justificar posturas machistas e violentas por parte dos homens e que são desconstruídas por Matthew Guttmann, antropólogo especialista em masculinidades da Universidade Brown, de Providence, no estado de Rhode Island, Estados Unidos.
Em recente visita ao Brasil, Guttmann participou do I Seminário Internacional Cultura da Violência contra as Mulheres, ocorrido em maio passado, em São Paulo e organizado pelo Instituto Patrícia Galvão e Instituto Vladimir Herzog.
“Mas não são todos os homens que violam, que batem. Se é algo biológico, por que há tantos homens que não violam?”, questiona o antropólogo. “Aí está a brecha para se entender de onde vem o machismo. Eu trabalhei com homens violentos na cidade do México. E nosso desafio não é mudar sua biologia e sim seu pensamento”.
Os estudos de gênero devem se debruçar sobre as masculinidades?
É saudável, eu creio, pois vivemos em um mundo de mulheres e homens. Quando falamos de gênero, é muito comum pensar que estamos falando da mulher, mas se pensamos assim, estamos dizendo que os homens não tem gênero, não estão envolvidos em relações de gênero. Podemos entender melhor a questão de gênero ao estudarmos os homens. Isso não é dizer que para entender sobre as masculinidades, só vamos falar com homens. Também é muito necessário falar sobre os homens com mulheres.
O que faz o estudo da masculinidade?
Tratamos de entender as ideologias, as práticas os comportamentos, as relações entre homens e também entre homens e mulheres e questões de gênero. Ser pai é uma questão de gênero, ser mãe também. Pode ser que seja a mesma coisa ou que haja divisão de trabalhos. Há diferenças em muitas famílias, mas também estão havendo mudanças nas tarefas de pai e  mãe. Hoje, há muitos pais com experiência em trocar fraldas, mas seus avós não tinham tanta experiência nisso. São mudanças que vão ocorrendo, inclusive em questões íntimas de família.
Nos Estados Unidos, a maioria dos que estudam os homens estudam os gays. Na América Latina sempre foi diferente: há estudos excelentes sobre gays, mas também há muitas feministas da Bolívia, Chile, Peru, Brasil e México que desempenharam um papel super importante nos estudos da masculinidade heterossexual. Se realmente queremos entender as relações de desigualdade que têm a ver com gênero, se realmente queremos mudar a situação, há a necessidade de estudar os homens e os incluir nos estudos feministas.
Muita gente nos Estados Unidos acha que o machismo é latino porque a palavra é espanhola, mas o problema é que há machismo na Rússia, França, África do Sul, México, Itália, Japão. Há atitudes sexistas dos homens que têm uma posição superior em relação à mulher e há uma relação entre machismo e violência.
O título da sua apresentação durante o I Seminário Cultura de Violência contra as Mulheres foi “Os Homens são animais”. Por que?
É claramente uma provocação. As mulheres também são animais, todos somos animais. O que isso quer dizer? Por exemplo, podemos falar de outros animais, como chimpanzés e patos.  Há cientistas e biólogos que dizem que os patos violam as fêmeas. Eu digo que violação é uma relação social, é a imposição do poder do homem sobre a mulher. Então os patos e os chimpanzés não violam as fêmeas. Podemos falar em sexo forçado, algo assim, mas não é violação no sentido humano.
Superficialmente podemos falar do comportamento de outros animais e do comportamento humano e afirmar que somos todos animais. Mas não é assim entre os humanos porque podemos ver mudanças radicais na questão gay, por exemplo. Há 50 anos, o debate era outro na sociedade brasileira, no México, nos Estados Unidos. Agora é legal casar-se em alguns estados dos Estados Unidos. Como resultado da luta social, sobretudo de parte dos homossexuais, agora temos mudanças nas leis, nas atitudes sociais, não totalmente, claro, pois segue existindo a homofobia. Porém, não podemos ver mudanças da mesma maneira em outros animais.
Mas, se somos animais, em que somos? Ou seja, temos que fazer sexo para ter filhos, ok, isso é animal. Mas o sexo entre os humanos não é algo feito por instinto, enquanto que entre os chimpanzés e patos é por instinto.
De que forma o aspecto biológico é utilizado como desculpa para o comportamento machista dos homens?
Alguns homens dizem “assim sou, tenho minhas necessidades, você tem que aguentar, tem que aceitar, pois assim sou”. É uma atitude bastante machista. Muita gente nos Estados Unidos acha que o machismo é latino porque a palavra é espanhola, mas o problema é que há machismo na Rússia, França, África do Sul, México, Itália, Japão. Há atitudes sexistas dos homens que tem uma posição superior em relação à mulher e há uma relação entre machismo e violência. Podemos falar de violência doméstica, também de violência social. E, hoje em dia, a sociedade mais violenta do mundo é a dos Estados Unidos, não há outro país que faça invasões, e ocupações em outros países do mundo. Eu venho de uma sociedade machista nesse sentido, em nível de governo. Por isso, me incomoda quando eles dizem que o México é muito machista. Embora haja machos no México, claro.
Qual a relação entre a violência contra as mulheres e o argumento de violência por determinação biológica?
Há pensadores científicos que dizem que a violação é natural, é uma necessidade masculina física biológica, que não é por isso que temos que aceitá-la, mas há que reconhecer, que é algo que vem da natureza. Alega-se que os machos, os animais de todas as espécies, são assim. Ao se pensar assim, a violência contra a mulher, por exemplo a violação, teria que se desenvolver algumas maneiras de controlar a situação.
Porém, como esse comportamento não é resultado biológico e sim do machismo, de um pensamento de superioridade, de controlar, de poder etc., temos que mudar a sociedade, as ideias, o comportamento dos seres humanos. Não podemos sentar com animais e lhes dizer: “Por favor, não coma mais carne, ok? Não quero que coma mais ninguém por aqui. Por favor, leão, deixe de ser leão”. Isso não funciona, pois sua biologia é assim. Mas se os homens são assim, não podemos falar com eles, teríamos de prender todos. Mas todos os leões buscam carne para comer, sem exceção. Se não procuram, morrem.
Mas não são todos os homens que violam, que batem. Se é algo biológico, por que há tantos homens que não violam? Aí está a brecha para se entender de onde vem o machismo. Eu trabalhei com homens violentos na cidade do México. E nosso desafio não é mudar sua biologia e sim seu pensamento.
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Os números do machismo no Brasil: pesquisa revela opinião de jovens entre 16 a 24 anos

96% dos jovens afirmam viver em uma sociedade machista

O jovem brasileiro é machista: cala, consente e reproduz um comportamento misógino. Ao menos é o que revela o resultado da pesquisa divulgada nesta quarta-feira, 3 de dezembro, pelo Instituto Avon e Data Popular que entrevistou 2.046 jovens de 16 a 24 anos de todas as regiões do país – sendo 1.029 mulheres e 1.017 homens.

Confira os números:
- 96% afirmam viver em uma sociedade machista
- 48% deles dizem achar errado a mulher sair sozinha com os amigos, sem a companhia do marido, namorado ou "ficante"
- 76% criticam aquelas que têm vários "ficantes"
- 80% afirmam que a mulher não deve ficar bêbada em festas ou baladas
O que elas dizem:
- 78% das jovens entrevistadas relatam já ter sofrido algum tipo de assédio como cantada ofensiva, abordagem violenta na balada e ser beijada à força. Três em cada dez garotas dizem ter sido assediadas fisicamente no transporte público.
- 53% delas dizem que já tiveram o celular vasculhado
- 40% que o parceiro controla o que fazem, onde e com quem estão
- 35% relatam que foram xingadas pelo namorado; 33%, impedidas de usar determinada roupa.
- 9% contam que já foram obrigadas a fazer sexo quando não estavam com vontade
- 37% que já tiveram relação sexual sem camisinha por insistência do parceiro.
- 32% das jovens relatam que tiveram de excluir algum amigo do Facebook a pedido do parceiro
- 30% dizem que tiveram e-mail ou perfil de rede social invadido pelo namorado e 28%
- 15% das jovens dizem que foram obrigadas a revelar para os namorados suas senhas de e-mail e Facebook
- 2% que receberam ameaça de cibervingança – a divulgação de fotos ou vídeos íntimos.
Além dos dados apresentados, a pesquisa ainda mostra que 42% das mulheres reprovam uma mulher que fique com muitos homens. 43% dos garotos categorizam mulheres para namorar ou para ficar.

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Mais mulheres (42% delas) do que homens (41% deles) disseram concordar que uma garota deve ficar com poucos homens. E muitos garotos (43%) ainda veem diferença entre mulheres para “namorar” e “para ficar” . Já 30% dos homens dizem que a mulher que usa roupas curtas está se oferecendo; somente 20% das mulheres concordam com a opinião.
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O que é Machismo:

Machismo é o comportamento, expresso por opiniões e atitudes, de um indivíduo que recusa a igualdade de direitos e deveres entre os gêneros sexuais, favorecendo e enaltecendo o sexo masculino sobre o feminino. O machista é o indivíduo que exerce o machismo.
Em um pensamento machista existe um "sistema hierárquico" de gêneros, onde o masculino está sempre em posição superior ao que é feminino. Ou seja, o machismo é a ideia errônea de que os homens são "superiores" às mulheres.
A ideologia do machismo está impregnada nas raízes culturais da sociedade há séculos, tanto no sistema econômico e político mundial, como nas religiões, na mídia e no núcleo família, este último apoiado em um regime patriarcal, onde a figura masculina representa a liderança.
Neste cenário, a mulher encontra-se num estado de submissão ao homem, perdendo o seu direito de livre expressão ou sendo forçada pela sociedade machista a servir e assistir as vontades do marido ou do pai, caracterizando um tradicional regime patriarcal.
Saiba mais sobre o significado de Submissão.
O ideal machista divide o mundo em "o que é feminino" e "o que é masculino", como profissões, trejeitos, expressões, manifestações, comportamentos, emoções e etc. De acordo com a convenção social do machismo, o homem deve seguir o estereótipo masculino, enquanto que a mulher deverá agir segundo o que foi pré-definido como feminino.
Não são apenas as mulheres que sofrem com o machismo, como forma de preconceito. Os homens homossexuais, ou mesmo os heterossexuais que se classificam como metrossexuais, por exemplo, também são alvos de exclusão na sociedade machista.
Quando um homem foge às ditas "regras da masculinidade", já pode ser enquadrado como alvo de preconceito em uma sociedade machista.
Saiba mais sobre o significado de Metrossexual.
Na mídia moderna, o machismo aparece quando a figura da mulher é apresentada como um "objeto sexual", de satisfação e prazer para os homens, com o intuito de venda.
Numa conotação informal, o machismo ainda pode significar o ato de ser macho, másculo ou um excesso exagerado de macheza e virilidade.

Feminismo

O feminismo é um movimento social, filosófico e político que tem o ideal contrário ao do machismo, pois luta pela igualdade de direitos e deveres entre os homens e as mulheres.
Graças às reivindicações feministas, as mulheres conquistaram durante o século XX direitos que antes eram garantidos apenas para os homens, como o divórcio, o voto em eleições, concorrer a cargos do governo, entre outros.
O movimento feminista tem como principal objetivo desconstruir o discurso enraizado na sociedade contemporânea do machismo, conscientizando as pessoas sobre a ausência de diferenças entre os gêneros.

Machismo no Brasil

A cultura do machismo está fortemente presente no Brasil, em grande parte dentro dos grupos mais jovens. De acordo com pesquisa feita em 2013 através do instituto Data Popular, 96% dos jovens brasileiros, entre 16 e 24 anos, afirmam que a sociedade brasileira ainda é extremamente machista.


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